Soma é conhecido nos Vedas como a “ bebida da imortalidade”, obtida de uma planta que entrava como principal ingrediente nos ritos e nas oferendas sacrificais. Essa bebida é também denominada o “néctar dourado” ou “ bebida dos deuses” (Amrita). No Rig Veda, Soma é o terceiro colocado em número de hinos: cento e vinte são consagrados e ele e todo o nono livro é dedicado ao Soma Pavamania, aquele que está sendo clarificado.
Segundo os mitos, Soma cresce “no umbigo da Terra, sobre as montanhas”. Alguns relatam que Soma veio para a Terra trazido por uma águia (Garuda) que, “VOANDO ATÉ OS CÉUS”, PRECIPTOU-SE “COM A RAPIDEZ DO PENSAMENTO” E “FORÇOU A FORTALEZA DE BRONZE”, ROUBANDO A PLANTA E TRAZENDO-A PARA O MUNDO DOS HOMENS.
Eliade relaciona os detalhes da prensagem ritualística da planta Soma a processo cósmico e biológicos: o barulho produzido pela roda inferior da maquinaria de prensagem (mó) é similar ao ruído do trovão; a lã do filtro representaria as nuvens; o suco seria a chuva que traz vida e crescimento à vegetação. Essa prensagem é, ainda, similar à união sexual, com seus líquidos reprodutores e à capacidade de gerar vida. Poderiam também, ser identificados aí os traços de um mito de origem: a criação da bebida da imortalidade pelo sacrifico de um ser primordial. Esse primeiro assassínio levado a cabo pelos deuses é indefinidamente repetido na passagem do Soma.
Os textos dos Vedas descrevem que Soma tem a função de estimular o pensamento, reanimar a coragem dos guerreiros, aumentar o vigor sexual e curar todas as enfermidades. Bebido em comum pelos sacerdotes e pelos deuses, aproxima a Terra dos Céus, reforça e prolonga a vida e garante a fecundidade. É fonte de inspiração e principio vital, outorgando recompensas pelo heroísmo e servindo de intermediário entre os homens e deuses.
Numa mitologia mais recente, período dos Puranas, Soma é identificado à Lua (Chandra), reservatório de Amrta (néctar da imortalidade). Ele tem como esposas as vinte e sete mansões lunares, filhas de Daksha. O fenômeno periódico de Lua minguante é explicado pelo feito de que os deuses, durante o processo de rotação regular da Lua, bebem o Soma, esgotando as reservas e culminando no desaparecimento gradativo desse astro. Outra explicação é atribuída a uma maldição lançada por Daksha que, observando as demonstrações de carinho de Soma (Lua) por sua filha Rohini, condenou-o a morrer de cansaço. Pela intervenção das esposas de Soma, esse castigo foi trocado de eterno por periódico.
O Vishnu Purana oferece o seguinte relato sobre Soma: Soma surgiu do olho do sábio Atri, filho de Brahma. Depois de ter celebrado o sacrifício de Rajasurya (grande sacrifício celebrado na cerimônia de coroação e consagração de domínio de um monarca universal), Soma contemplava a imensidão de seu império e ficou embriagado da glória que havia alcançado, tornando-se arrogante e licencioso.
Em sua embriagues, atreveu-se em raptar Tara, a esposa de Brihaspati, o preceptor dos deuses. Brihaspati tentou, por várias vezes, recuperar sua esposa, mas foi em vão; tampouco adiantaram as ordens de Brahma para que Soma libertasse Tara. Foi necessário uma terrível guerra, na qual se enfrentaram, por um lado, os deuses comandados por Indra e por outro, Soma, à frente dos seus ajudantes e demônios. Por fim, a própria Tara pediu proteção para Brahma, que acabou conseguindo que Soma deixasse em liberdade a famosa prisioneira.
Após as batalhas e a libertação de sua esposa, Brihaspati, ao ver que Tara estava grávida, negou-se a recebê-la de volta antes que o filho nascesse. Assim, aconteceu que, como se estivesse obedecendo ordens e por uma espécie de milagre, a criança nasceu no mesmo instante, radiante de beleza e poder.
Soma e Brihaspati reclamaram imediatamente a paternidade do garoto, fazendo perguntas íntimas a Tara, que, em meio à confusão, não soube responde-las. O menino ficou indignado e com a atitude da mãe e quase chegou a amaldiçoá-la se não fosse a intervenção de Brahma, acalmando-o, ao mesmo tempo que perguntava a Tara: “De quem é o filho, querida? De Soma ou Brihaspati?” “De Soma”, respondeu ela, envergonhada. Uma vez sendo pronunciadas essas palavras, o senhor das constelações, de resplandecente rosto, abraçou o garoto dizendo: “É verdade, meu filho é inteligente, por isso vou chamá-lo de Buddha”.
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