A linha do conhecimento
O Guru olhou à sua volta procurando seus discípulos sentados na clareira. Alguns estavam memorizando textos, outros os estavam copiando, mas – todos – completamente concentrados em seus afazeres. Todos, exceto um. Como de costume, distraído, o menino seguia com os olhos a borboleta colorida que dançava à sua frente, pousando nas flores radiantes da estação. Com um suspiro, o Mestre pediu para o garoto se aproximar e pensou: “Hoje, terei de ser severo com ele. Deverei fazê-lo compreender que deve estudar e não levar uma vida ociosa.”.
borboletas
– Você pode repetir o verso para mim? Pediu.
A criança, apenas, abaixou a cabeça. É claro que não podia.
– Então, leia-o para mim! Insistiu.
Mesmo isso era demais para o menino. Ele tropeçava e hesitava, até que – finalmente – desistiu.
O Mestre lhe disse:
– Tenho sido bastante paciente. Hoje, você terá de ser punido e amanhã e depois também. Até aprender a ler e recitar este simples verso. Estenda a mão.
Sabendo o que ia acontecer, a criança – relutantemente – estendeu a pequenina palma de sua mão quando o Guru ameaçou levantar o bastão. Depois de um momento, o Mestre falou com compaixão:
palma-da-mao– Pode ir, não é sua culpa que não possa estudar. A linha do conhecimento não está na sua mão.
Naquele instante, a expressão do menino mudou.
– É verdade, senhor? Não há a linha do conhecimento na minha mão? Por favor, mostre onde essa linha deveria estar.
O Mestre riu por esse interesse súbito do garoto e mostrou-lhe a linha em sua própria mão. Antes que ele compreendesse o que estava acontecendo, o menino pegou uma caneta pontiaguda e riscou a linha profundamente em sua palma. Fechando a mãozinha com força, temendo que o rabisco pudesse fugir, ele disse:
– Olhe, eu fiz a linha. E prometo-lhe, senhor, que estudarei duro para que não fique mais envergonhado, – disse o discípulo mirim.
O Guru ficou comovido pelo comprometimento da pequena figura e abençoou-o, dizendo:
– Com tanta coragem e determinação, certamente você se tornará um excelente professor.
E de fato aconteceu. Esse menino tornou-se conhecido como Panini, o renomado gramático indiano, e até os dias de hoje seu trabalho auxilia estudantes de sânscrito a melhor compreenderem a língua. Mesmo dois mil anos depois de sua morte.
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