domingo, 18 de dezembro de 2011

Brahman, Brahma e os três gunas


Brahman, Atman
Brahman é o infinito. Sem causa, Eterno, a Realidade Suprema da Filosofia Vedanta. Transcende as qualidades ou atributos. Está acima do sujeito e do objeto; é a fonte da Existência, Conhecimento e Bem Aventurança (Sat Chit Ananda). Brahman é a tela sobre a qual se projeta o drama cósmico (Maya). Mantém a criação (drama), mas esta não lhe afeta.
Não se pode definir Brahman, nem se pode conhecê-lo através do intelecto, já que “definir é limitar”. O mesmo acontece com o Absoluto; então, como pode limitar-se? O grande filósofo não-dualista Shankaracharya afirma categoricamente: “Brahman é real. O universo é irreal. Brahman e Atman são um. Só o que é real não muda ou deixa de existir.” Atman é a Consciencia Absoluta dentro do individuo. É “um” com Brahman, sem mudanças e sem limitações. É idêntico com Brahman. Ainda que Brahman e Atman sejam termos idênticos, Brahman se refere ao Absoluto dentro do individuo.
Upadhi, Maya, Avidya
Os Upadhis são fatores limitativos, são fatores que velam a consciência. Os Upadhis são o corpo e a mente. Maya se manifesta no individuo em forma de Avidya (ignorância). Avidya nos faz esquecer que somos o Ser (Atman) e faz com que nos identifiquemos com o corpo físico, com a mente (os Upadhis). O ser que se identifica com os Upadhis é chamado Jiva. Jiva acredita estar limitado e atado pelos Upadhis e, por cnonsequência, sofre. Por isso terá que voltar a nascer várias vezes até que realize sua verdadeira natureza (Atman).
Ishwara, Jiva
Brahmans, quando associado com Maya, é denominada Ishwara ou Saguna Brahman. Corresponde ao Deus personificado das distintas religiões. De acordo com a Filosofia Vedanta não-dualista, Ishwara está em escalão abaixo de compreensão em relação a Brahman. É o símbolo mais elevado ou a manifestação de Brahman no mundo relativo.
Segundo Swami Vivekananda, “Ishwara representa o conceito mais elevado que uma mente humana pode compreender e que o coração humano pode amar.” As qualidades de Iswara são onisciência, onipresença, soberania universal, domínio universal e poder ilimtado.
Brahman não pode ser descrito por nenhum atributo específico; em seus diferentes aspectos é chamado Criador (Brahma), Preservador (Vishnu) e Destruidor (Shiva) do Universo. Sob esse ponto de vista do puro Brahman, não há criação, já que nenhum dos atributos de Iswara pode ser aplicado a Brahman.
Os ensinamentos do Cristianismo fazem referencia a Brahman e Ishwara: Existe Deus (Ishwara) e por cima dele está a Divindade (Brahman). Deus atua. A divindade não.
A Bhagavad Gita descreve Ishwara como “permanecendo igual em todos os seres”. Iswara é, portanto, o Deus personificado, a quem rezamos. Brahman está fora, acima de qualquer conceito mental. Não pode ser objetivado.
Jiva é a alma individual. É o Atman que se identifica com os Upadhis (fatores limitativos).
Brahma
Brahma é o aspecto criador da trimurti (trindade hindu); os outros doias, já mencionados, são Vishnu (preservador) e Shiva (destruidor). A esses 3 aspectos em conjunto chamamos Iswara. Outros nomes utilizados para Brahma são Hiranyagarbha, Prajapati, Mente Cósmica, Sutratma.
Os três gunas
Maya ou Prakriti é composta por três gunas (qualidades): Sattva, Rajas e Tamas. Os três gunas são comparados aos três da corda de Maya, a corda por meio da qual Maya ata o homem a este mundo ilusório.
Maya não pode existir sem os três gunas; é intrínseca a eles. Estão presentes em distintos graus em todo tipo de objetos – materiais ou sutis – incluindo a mente, o intelecto, o ego. Os gunas operam no nível físico, mental e emocional. Todas as coisas neste universo de Maya contêm os três gunas.
Ao final do ciclo, quando o universo regressa a um estado de não manifestação (Noite de Brahma), os gunas estão em um estado de equilíbrio. Durante esse tempo, Maya – associada com Brahman – existe como mera causa, sem nenhuma de suas manifestações. Logo, os fatores kármicos alteram o equilíbrio dos três gunas, e estes começam a adquirir suas características individuais.
Distintos objetos, sutis e grosseiros, começam a existir. O universo tangível começa a manifestar-se. Essa projeção do universo tangível é conhecida como “O Dia de Brahma”.
Os gunas se manifestam no homem da seguinte maneira:
- Sattva como pureza e sabedoria;
- Rajas como atividade e movimento;
- Tamas como preguiça e inercia.
Como dissemos anteriormente, essas três “qualidades da natureza” existem juntas. Não pode haver Sattva puro sem Tamas nem Rajas; ou Rajas puro, sem Sattva e Tamas; ou Tamas puro, sem Sattva e Rajas. A diferença entre dois seres se dá pela preponderância dos gunas. Enquanto o homem estiver apegado a algum dos gunas, estará atado. Inclusive os deuses estão sob suas influencias. Nos deuses predomina Sattva, no homem Rajas e nos seres subhumanos Tamas.
Sattva ata o homem mediante ao apego a felicidade, Raja com o apego à atividade e Tamas com o apego à ilusão. Somente Brahman está acima dos três gunas e não pode ser afetado por Maya.
Os três ladrões
O Yoga representa a compreensão científica para alcançar a verdade transcendendo a natureza e os gunas. A seguinte história é contada frequentemente no mundo Yogi para ilustrar os três gunas:
Os gunas podem ser comparados a três ladrões que assaltam um homem num bosque. Tamas, um dos ladrões, quer destruí-lo, mas Rajas, o segundo ladrão, consegue convencer Tamas a somente amarrar o homem a uma árvore. Passado um tempo, Sattva, o terceiro ladrão, volta e desata o homem, leva-o para fora do bosque e lhe mostra o caminho que o conduzirá a sua casa.
Mas Sattva também o abandona, porque – por ser também um ladrão – não se atreve a acompanhá-lo para fora do bosque por medo da polícia.
Tamas quer destruir o homem, Rajas lhe ata ao mundo, rouba-lhe os tesouros espirituais e Sattva lhe indica o caminho para a liberdade. Tamas deve ser superado por Rajas e Rajas por Sattva.
Mas finalmente Sattva também de ser abandonado se o aspirante quer conseguir a liberdade total. A verdade está acima dos três gunas.

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