A Compaixão de Garuda
Na maravilhosa região de Kailas - o Kailas sutil que não
pode ser visto por olhos humanos comuns - estava situada a Morada de Shiva.
Uma tarde, Vishnu foi visitar Shiva. Ele deixou seu veículo
vivo, Garuda, em frente ao grande arco natural que levava à morada de Shiva.
Garuda ficou pousado, sozinho, maravilhado pela grandeza do
lugar - o lugar físico e visível a todos. Os esplendores dos raios do sol
poente tinham espalhado sete cores pelas brumas e neves que envolviam os picos
elevados.
De repente, seus olhos caíram sobre uma bela criatura, um
pequenino pássaro pousado no arco de pedra. "Como é maravilhosa esta
criação! Aquele que fez este gigantesco Himalaia, fez também este minúsculo
pássaro - e ambos parecem igualmente magníficos!" pensou.
Justamente então, Yama, a Deidade que preside o Destino e a
Morte, ia entrando no arco, talvez com a intenção de ter um,
"Darshan" de Shiva. Quando ele ia passar para o outro lado do arco,
seus olhos caíram sobre o pássaro, examinando-o atentamente. Suas sobrancelhas
se ergueram. Então desviou o olhar e desapareceu por trás do arco.
Garuda, que estava observando a cena, disse para si mesmo: "Yama, quando olha desse jeito, só pode
significar uma coisa: o tempo da ave findou! Talvez quando voltar ele leve sua
alma embora!"
O coração de Garuda estava cheio de pena pelo pássaro. Ele
queria salvá-lo da morte iminente. Mas disse:
"As leis do Destino
estão trabalhando. Não é da minha conta interferir nelas!"
Um minuto se passou. Garuda sentiu que suas emoções não
estavam pacificadas.
"Se eu posso salvar o
pássaro, porque não devo fazê-lo?" ele se censurou.
No momento seguinte, uma outra voz disse-lhe: "Este é meu impulso egoísta. Quem sou eu
para salvar alguém?" De repente, ouviu uma voz sutil falando
de suas profundezas: "No momento, não estou
certo se a sabedoria está em agir ou não agir. Suplico que, o que quer que faça
neste estado de incerteza, se torne parte do esquema total Providencial. A Ti,
meu Senhor, ofereço minhas emoções e ações!"
A seguir, apanhou o pássaro e, com a velocidade de um
relâmpago, desceu até Dandakaranya e colocou-o sobre uma rocha, ao lado de um
regato. Retornou então a Kailas e esperou por Vishnu.
Porém Yama saiu mais cedo e, ao ver Garuda, sorriu-lhe.
Garuda cumprimentou o Deus e disse:
"Posso lhe fazer uma
pergunta? Quando estava entrando você viu um pássaro pousado no arco e, por um
minuto, ficou pensativo. Por que?"
"Oh! Já tinha esquecido
tudo. Bem, quando meus olhos pousaram nele, vi que ia morrer em poucos minutos
devorado por uma gigantesca serpente, lá longe em Dandakaranya, perto de um
riacho. Fiquei imaginando como este minúsculo pássaro poderia cobrir tal enorme
distância em tão curto tempo. Depois esqueci tudo. Certamente deve ter
acontecido de algum modo. Era hora para essa pequenina criatura nascer de
novo."
Yama sorriu e foi embora. Será que ele sabia do papel
desempenhado por Garuda neste incidente? Não sabemos. Mas Garuda ficou
aturdido. A princípio, em dúvida se devia ficar triste ou feliz, logo
transcendeu a necessidade de permanecer em tal estado de mente e disse:
"Oh! Senhor, sou um
veículo Teu! Que eu permaneça Teu veículo, tanto na ação quanto na
inação."
E voltou a seu ânimo de equanimidade iluminada.
Aulas às quinta- feria 16:30 às 17:30 horas.
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