quinta-feira, 30 de março de 2017

A Busca de Narada



"Como você tem sorte!" observou Vishnu, examinando afetuosamente o Sábio Narada. Naquele momento, ele acabava de retornar ao céu, depois de uma de suas peregrinações ocasionais à Terra.
"Não há dúvida que tenho sorte, meu Senhor, pois nunca parei de cantar seu nome!"
"Você tem sorte porque visita a Terra frequentemente e muitas vezes entra em contato com meus verdadeiros devotos - aquelas almas abençoadas", explicou Vishnu.
Narada refletiu por um momento sobre a observação. Entrar em contato com devotos, os bons e os abençoados, era isso uma grande dádiva?
Incapaz de refreiar sua dúvida por muito tempo, perguntou a Vishnu:
"Ó Senhor, tenho a certeza de que, realmente, entrar em contato com verdadeiros devotos é algo que proporciona uma grande alegria. Aguardo ansiosamente por essas experiências. Mesmo asim, sua observação me intriga. Pode isso ser tão importante ao ponto de alguém considerar-se felizardo por essa razão?"
 O Senhor sorriu:
"Narada, você gostaria de testar a veracidade de minha observação?" Narada ficou um pouco confuso com a sugestão, pois não havia dúvida de que nem um pingo de incerteza podia existir no que Vishnu havia dito. Ao mesmo tempo, irresistível era sua curiosidade; aqui estava, talvez, uma outra oportunidade para testemunhar um ato do mistério de Deus em ação!
"Sugiro, ó Narada", disse Vishnu, "que você se encaminhe para a floresta de Dandakaranya. Na parte oeste da floresta verde, encontra-se uma velha árvore Bania. Num ninho, em um de seus buracos, encontra-se um passarinho novo. De fato, ele saiu da casca há apenas uma hora. O pequenino pássaro deve ser capaz de lhe dizer o que você quer saber."
 Que ele pudesse esperar algum esclarecimento de um passarinho, surpreendeu Narada. Porém, imediatamente partiu para Dandakaranya. Sua surpresa logo foi substituída por uma sensação de curiosidade. Não descansou até achar a árvore Bania. Realmente, em um de seus buracos havia um ninho, no qual um passarinho novo estava começando a bater suas pequeninas asas. Mas ainda não tinha visto a luz do Sol ou a brisa.
 Narada tocou o pássaro afetuosamente. O pássaro olhou-o fixamente. Porém, antes que Narada tivesse tido tempo de fazer-lhe sua pergunta, ele caiu morto!
 Narada ficou chocado com esse acontecimento inesperado. Enterrou o pássaro ao pé da árvore e retornou ao céu.
 "Por que está tão sério, meu nobre devoto? Parece que você ainda não recebeu a resposta à sua pergunta!" observou Vishnu, quando Narada voltou à sua presença.
 "Ó Senhor, você sabe tudo! Estou de volta mais atônico do que nunca", disse Narada.
 "Nas redondezas da cidade de Ayodhya, às margens do rio Saryu, vive um pobre jardineiro. Sua vaca acaba de ter um bezerrinho. Vá e faça a pergunta ao bezerro", foi a ordem de Vishnu desta vez.

 Narada partiu para Ayodhya imediatamente. Não demorou achar-se em frente à cabana do jardineiro.
 "É verdade que sua vaca deu à luz um bezerro?" perguntou ao jardineiro.
 Encantado de ver o santo homem, o jardineiro recebeu-o calorosamente e levou-o ao terreiro atrás da casa.
 "Ó sábio, por favor, abençoe meu bezerrinho!" pediu o jardineiro.
 Narada bateu afetuosamente no lombo do bezerrinho. Ele fixou os olhos no rosto de Narada e caiu estatelado no chão. Narada retraiu-se com medo de que o destino que se abatera sobre o pássaro tivesse agora alcançado o bezerrinho também! Sua suspeita confirmou a verdade. O jardineiro examinou o bezerro com grande ansiedade e descobriu que ele estava morto. Olhou para o sábio com olhos espantados.
 Bem atordoado, Narada retirou-se apressadamente.
 "Ó Senhor, não esperava que você me causasse tanto transtorno, quando tudo que queria era saber o benefício de nossa associação com almas grandes e boas", disse Narada a Vishnu, sua voz traindo seus sentimentos magoados.

 "Tenha paciência, meu prudente sábio, está longe de mim causar-lhe qualquer embaraço. Na verdade, não estou fazendo outra coisa a não ser ajudá-lo a encontrar a resposta à sua pergunta." disse Vishnu com um sorriso de compaixão. Então acrescentou:

 "Um príncipe nasceu, filho do Rei da dinastia Chola. Estou certo de que se você encontrar o pequeno príncipe, ficará plenamente satisfeito."
 Narada não estava certo se iria seguir a mesma espécie de ordem outra vez. Porém Vishnu disse:
 "Não tenho dúvida de que fará como disse, pois você nunca procedeu de outra maneira!"
 Na verdade, fosse o resultado encantador ou humilhante, um verdadeiro devoto do Senhor nunca hesitaria em agir de acordo com a vontade do Senhor. Narada estava outra vez no seu espírito alegre. Não muito depois, ele foi visto entrando no palácio dos Cholas.
 Aconteceu que o rei o conhecia. Ele e sua corte deram as boas vindas ao sábio, com impressionantes demonstrações de reverência.
 "Ó sábio, visitas suas são bênçãos enviadas por Deus para mim. Hoje fui abençoado com um filho. Sua vinda torna o dia auspicioso. Por favor, abençoe o príncipe infante", disse o rei.
 Narada sentiu um estremecimento no coração.
 "Espero e oro para que o príncipe não siga o caminho do pássaro e do bezerro", disse para si mesmo. Porém, sua confiança no Senhor ajudou-o a vencer seus temores.
 "Ficaria feliz de abençoar o príncipe, mas gostaria de ficar sozinho com ele por um momento", disse Narada.
 "Como quiser, ó grande sábio", disse o rei.
 A rainha e suas servas retiraram-se do quarto onde o belo príncipe estava deitado. O príncipe virou-se para olhar o sábio. Um doce sorriso brincava em seus lábios.
 "Acredito que você possa satisfazer uma pergunta minha. Qual é o benefício de nossa associação com almas grandes e boas?" perguntou Narada à criança.
 "Ótimo! Eu sou o exemplo vivo deste benefício", respondeu o príncipe.
 "Não compreendo!" confessou Narada.
 "Nascido como um pássaro, por um momento entrei em contato com você, ó grande e boa alma! Meu espírito sofreu um impulso para cima e nasci como um bezerro. Aconteceu que entrei de novo em abençoado contato com você, ó grande e boa alma! Meu espírito obteve uma elevação. Abandonei minha forma bovina e aqui estou eu - reencarnado num ser humano, um príncipe! Eu me inclino diante de Ti, ó grande Narada!" explicou o príncipe, irradiando alegria.
Narada ficou emocionado. Abençoou o príncipe e partiu, cantando a glória do Senhor.


 Aulas às quinta- feria 16:30 às 17:30 horas.






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