Ao pé de uma colina, às margens de um rio, vivia um eremita. A floresta à volta fornecia-lhe os frutos e os vegetais que ele necessitava. A água do rio era pura. As pessoas das aldeias vizinhas ficavam felizes em reparar sua cabana de tempos em tempos. De fato, eles ficariam felizes de fazer qualquer coisa para o eremita. Porém, suas necessidades eram poucas.
Muitos corriam para encontrá-lo. Ouviam seus conselhos e iam embora. Mas um se apegou a ele, apesar de nunca ter sido encorajado pelo eremita. Contudo, deve ser admitido que o jovem servia bem a seu mestre. Ele se arrogava ser o principal discípulo do ermitão e este não se importava. As pessoas começaram a chamá-lo de Chelababa.
Uma tarde, enquanto meditava profundamente, o eremita recebeu um chamado de seu guru que vivia nos Himalaias.
"Estou indo para as colinas altas", o ermitão anunciou ao Chelababa de madrugada.
Na verdade, seu pé direito já estava fora da cabana. Chelababa foi tomado de surpresa, mas conseguiu controlar-se e disse:
"Por favor, leve-me consigo"
O eremita sorriu amavelmente, mas foi categórico ao expressar sua impossibilidade em levá-lo.
"Quando você voltará?" perguntou Chelababa à beira das lágrimas.
"Por que deveria eu ficar preso a qualquer compromisso sem valor? Sou um asceta. Vou para onde quiser. Não tenho apego a nenhum lugar, você deve saber disso."
"O que acontecerá com este eremitério encantador?" perguntou Chelababa muito interessado.
O eremita riu e disse:
"O eremitério era para mim; eu não era para o eremitério. Não foram muitos castelos e fortes reduzidos a poeira através dos séculos? O que importa se uma mera cabana desaparecer?"
Chelababa não pareceu apreciar a resposta. Chorou e disse:
"Mestre, pelo menos permita-me viver aqui em sua memória. Talvez um dia você retorne."
O eremita sentiu pena do jovem que, apesar de tudo, o tinha servido tão bem.
"Que seja", disse. "Pode dizer a todos que pedi para você conservar meu eremitério."
Não se sabe para onde foi o eremita depois de ter encontrado seu guru. Pode ser que tenha perambulado pelos Himalaias. Trinta anos se passaram. Mas, um dia, talvez tenha se lembrado de seu velho eremitério, às margens do rio e do discípulo que deixara lá. Decidiu visitar o lugar.
Andou durante vários meses e aproximou-se da colina. Muito havia mudado naquela região e ele também mudara muito. Ninguém o reconheceu. No caminho para seu eremitério, encontrou uma feira. Curioso, entrou e o que viu o surpreendeu tremendamente. Uma seção da feira era dedicada à venda de gatinhos apenas!
"Este aqui está destinado a crescer e tornar-se um maravilhoso macho, muito apropriado para meditação", exclamou um vendedor segurando um gatinho listrado.
"O meu está destinado a se tornar o mais belo gato malhado do mundo - o tipo exato para a pura meditação", gritou um outro.
"Venham aqui, estes gatinhos são descendentes diretos do gato de estimação do guru, aquele com o qual o grande eremita meditava!" declarou um terceiro.
O eremita ficou perplexo. Levou um homem para o lado e observou:
"Senhor, nunca ouvi falar sobre uma feira de gato!"
"Como podia ter ouvido? Os discípulos de Chelababa vivem, a maior parte, nesta área. Naturalmente, como o gato é muito importante aqui, nós temos esta feira quinzenal!" disse o homem.
Isso, porém, não satisfez a curiosidade do eremita. Continuou andando em direção a seu velho eremitério. No caminho, ouviu um senhor idoso chamando a atenção do filho:
"Como pode você pensar em meditar sem um gato amarrado ao pilar? O que pensará de você Chelababa se vier a saber de sua conduta extravagante?"
Perplexo cada vez mais, o eremita chegou à margem do rio. Sua velha cabana ainda estava lá, mas era conservada como um santuário sagrado. Seu discípulo, Chelababa, vivia numa bela casa que lhe fora ofertada por seus admiradores. Um certo número de discípulos estava a seu serviço.
Todos olharam com surpresa para o inesperado visitante, porém ninguém ousou pará-lo. O eremita prosseguiu em seu caminho até o quarto de Chelababa. Anoitecia. Chelababa meditava. Diante dele estava deitado um gato, amarrado a um pilar.
Enquanto o eremita olhava com compaixão, teve uma visão de tudo a que havia acontecido. Décadas atrás, ele possuía um gato de estimação. O gato travesso tinha o hábito de brincar com ele e puxar sua barba sempre que o encontrava sentado tranquilamente. Quando o eremita sentava-se para meditar, amarrava-o a um pilar, para não ser perturbado por ele. Chelababa havia observado esta prática e concluíra que amarrar um gato ao pilar era o primeiro princípio a ser seguido para uma meditação saudável.
Assim que Chelababa abriu os olhos, viu seu mestre. Estava para gritar de alegria, mas o eremita impediu-o a tempo e disse:
"Não tenho a intenção de atrair a atenção dos outros sobre mim. Devo deixar este lugar imediatamente."
"Mestre!por favor, leve-me consigo". Em lágrimas,Chelababa, implorou.
O eremita sentiu que suas súplicas eram genuínas. Embora simplório, Chelababa era uma boa alma, um sincero devoto.
"Tudo bem. Encontre-me no outro lado da colina, sozinho, dentro de uma semana. Enquanto isso, anuncie a seus discípulos que a era da meditação com gatos amarrados ao pilar já passou. De agora em diante eles podem meditar sem esta formalidade", disse o eremita e foi embora para a colina.
Aulas às quinta- feria 16:30 às 17:30 horas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário