Tudo Acontece Para o Melhor
Certo príncipe, depois da morte do pai, herdou o reino e uma
grande fortuna em ouro. Isso ele gostou - gostou muito. O que ele não via com
bons olhos era ter herdado também o velho ministro de seu pai.
Não que o ministro atrapalhasse as festas e prazeres do
jovem rei, mas é que ele estava sempre tão sério quanto um velho gato; sua
presença era o bastante para arrefecer o alegre espírito do rei e de seus
companheiros.
Além disso, o ministro tinha o hábito de murmurar:
"Tudo o que acontece, acontece para o melhor, se soubermos como
aceitá-lo."
Isso irritava o rei. "Como é possível que um forte
resfriado ou uma queda de cavalo possa ser bom, sem falar em o melhor?"
perguntava ele a seus confidentes e dizia:
"O senso comum do ministro, através de longo uso,
tornou-se tão embotado como sua cachola calva. Ou talvez ele tenha se tornado
preguiçoso e, assim, inclinado a tomar tudo o que vem sem protestar, afirmando
para si mesmo que tudo acontece para melhor!"
Mas o rei não podia permitir que seu principal dignitário
permanecesse tão simplório. Algum estimulante devia ser infundido nele. Um
pequeno passeio, um pouco de participação em algum evento excitante, seria bom
para ele, pensou o rei.
Assim, um dia, pediu ao ministro que se juntasse a ele na
caravana que iria caçar.
"Muito bem", disse o ministro, como sempre.
Parecia que não seria um dia auspicioso. Um cogumelo de
nuvens escuras surgira no horizonte quando o grupo iniciou a jornada. O
príncipe pensou que elas seriam varridas pelo vento. Mas justamente quando entravam
na floresta, um forte vendaval partiu o galho de uma grande árvore que veio
caindo, caindo, até desabar sobre o próprio rei. Felizmente ele escapou com
apenas um pequeno corte na testa.
Não obstante, gritou de horror. E, ainda por cima, os
guardas e os cortesãos fizeram tal alarido que centenas de chacais, perto de um
arbusto, juntaram-se à agitação.
O ministro, no entanto, sorriu e consolou o rei dizendo:
"Não fique perturbado, meu senhor. O que acontece,
acontece para o melhor!". E acrescentou: "Tudo o que tem que fazer é
aceitar todas as coisas no espírito certo."
Nunca antes tinham estas palavras enfadonhas soado tão
sinistras como então. O rei tremia de raiva e ordenou a seus homens para
amarrar o ministro e jogá-lo dentro de um buraco e gritou alegremente:
"O que acontece,
acontece para o melhor, não é? Agora prove a sua própria teoria. Adeus!"
O rei e seus homens não tinham andado muito quando um
temporal desabou, seguido de um pesado aguaceiro. Tudo ficou escuro. Ouviam-se
terríveis estrondos de trovões e algumas árvores, abatidas por raios, caiam
diante do grupo. Em pânico, os homens correram na confusão, deixando o rei
sozinho.
De repente, o rei foi
cercado por uma gangue de bandidos. Nas profundezas da selva, a gangue tinha a
sua deidade. Era costume de eles sacrificar um ser humano no altar da
divindade, em certo dia do ano. E este dia tinha chegado.
O rei tentou escapar,
mas ele não era páreo para os marginais. Foi capturado e levado para o
santuário. Estava para perder a vida, quando os bandidos observaram a ferida em
sua testa. Desapontados, mandaram-no embora, pois os rituais exigiam que o
homem a ser sacrificado não tivesse uma única ferida recente em seu corpo.
Logo a chuva parou. O
rei descobriu que estava no coração da floresta e tentou se orientar para achar
o caminho. Quando seus homens finalmente o encontraram, estava atordoado e
muito faminto; grande foi à alegria de todos.
O rei, exausto,
sentou-se numa rocha e mandou alguns de seus homens libertarem o ministro.
Logo o velho surgiu
calmo como sempre.
O rei abraçou-o e,
prorrompendo em lágrimas, disse:
"Ó meu sábio
ministro, agora compreendo a verdade de suas palavras. teria sido morto se não
fosse à ferida na minha testa. Pode perdoar-me pelo desrespeito que tive por
você?"
"Esteja certo,
meu nobre senhor, que o que quer que aconteça, acontece para o melhor. Eu vi os
bandidos, mas eles não podiam me ver porque estava no buraco. Se tivessem me
visto certamente teriam me levado e agora minha cabeça e tronco não estariam
mais juntos."
Aulas às quinta- feria 16:30 às 17:30 horas.
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