segunda-feira, 24 de maio de 2021

Ganges e a descida de suas águas para a Terra


A água desempenha um papel purificador no Hinduísmo, e frequentemente as margens fluviais têm escadas, grades ou bancadas (conhecidas como ghats) para poder realizar as abluções e a imersão na água, parte do processo de purificação.

No "Ramayana", encontramos a seguinte lenda sobre o rio Ganges e a descida de suas águas para a Terra:

Em tempos remotos, viveu na Terra o rei Sagara com seus sessenta mil filhos. Este rei queria destronar Indra, o deus dos céus, e proclamar-se governador do mundo, para o qual mandou soltar um magnífico cavalo, ordenando que toda as regiões pelas quais esse animal passasse ficariam sob o domínio de seu reinado.

No decorrer da trajetória, o cavalo foi roubado por Indra, que adotara a forma de um demônio, e levado para o centro da Terra. Sagara ordenou, então, que seus sessenta mil filhos procurassem o cavalo até encontrá-lo e o trouxessem para ser sacrificado.

Para cumprir a missão, os filhos de Sagara começaram a perfurar a Terra sendo que cada um perfurou uma légua; mas no fim de sessenta mil léguas, ainda não tinham encontrado o animal. Desceram, então, às profundezas subterrâneas e chegaram ao centro de todas as coisas, lá onde o sábio Kapila suporta o mundo. Ali, viram o cavalo pastando. Foram agarrá-lo e, ao mesmo tempo, atacaram Kapila com árvores e pedras, acusando-o do roubo do cavalo de Sagara. Mas quando se aproximaram, Kapila lançou um olhar de seu terceiro olho sobre eles, transformando-os em um monte de cinzas.

O rei, preocupado com o desaparecimento de seus filhos, mandou seu neto, Asuman, saber o que tinha acontecido. Asuman chegou junto às cinzas e, ali, o pássaro Garuda contou-lhe o episódio e disse-lhe que os sessenta mil filhos de Sagara só poderiam retornar à vida quando as águas de Ganga descessem às profundezas da Terra e corressem sobre as cinzas. Asuman regressou, levando consigo o cavalo e relatou tudo ao rei.

Embora Sagara reinasse durante trinta mil anos e procurasse constantemente trazer Ganga até a Terra, nunca o conseguiu. Asuman herdou o trono do avô e prosseguiu com os sacrifícios, mas nem ele nem seu filho Dhilipa conseguiram êxito.

O rei seguinte foi Bhagiratha. Ele era um poderoso asceta e praticou terríveis austeridades, até então desconhecidas: esteve durante mil anos com os braços levantados, com quatro fogos ardendo à sua volta e o Sol dardejando sobre ele. Por fim, Brahma condoeu-se do seu suplício e disse-lhe que poderia pedir uma recompensa pelos sacrifícios que a si próprio impusera. Bhagiratha exprimiu o seu desejo: “Que os sessenta mil filhos de Sagara retornem à vida e alcancem o céu de Indra por meio da purificação com as águas de Ganga”. Ele recebeu, então, a palavra de Brahma que Ganga desceria à Terra.

Ganga ficou muito aborrecida de ter de sair do céu e os deuses aperceberam-se de que ela cairia sobre a Terra com quanta força tivesse. Por isso, Brahma avisou a Bhagiratha desse perigo e aconselhou-o a invocar Shiva, que poderia ajudá-lo. Bhagiratha consagrou mais sacrifícios e Shiva concordou em quebrar a violência da queda de Ganga, aparando as águas no emaranhado de seus cabelos. Assim, apesar da fúria de Ganga e da sua vontade de inundar a Terra, ela ficou muito confusa e fraca quando entrou nos cabelos de Shiva e saiu de lá dividida em sete rios, que depois formariam o mar. Dentre eles, surgiu o famoso rio Ganges, que acompanhou Bhagiratha até o centro da Terra e purificou as cinzas dos sessenta mil filhos de Sagara, possibilitando que voltassem à vida e ascendessem ao céu de Indra.  Qualquer lugar por onde Ganga flui é sagrado. Acredita-se que mesmo os piores criminosos e pecadores irão para o céu se adorarem o rio.






Se isto agregou valor para você curta e compartilhe. Que todos cuidem dos demais!


Com Amor Janisleine Mara


Nenhum comentário:

Postar um comentário