A Chave para a Luz
Um homem chegou um dia a um ashram procurando o caminho da luz. Curvou-se perante o swami e disse: “Estou interessado em conhecer o Self. Quero encontrar paz. Por favor concede-me essa sabedoria.” O swami sorriu para ele e disse: “Pobre homem, vais morrer daqui a dez dias. É tarde demais.” O homem ficou chocado. “Queres dizer que eu vou mesmo morrer daqui a dez dias?” “Sim, eu vejo a Morte a vir. Está muito perto de ti.” “O que devo eu fazer, swami? Há alguma coisa que me possas ensinar?” “Não é assim tão fácil. Muitos praticam durante anos e mesmo assim não encontram a sabedoria.” Mas o homem continuou a insistir até que finalmente o swami disse: “ Está bem. Talvez eu esteja errado. Vai para casa e se por sorte viveres mais de dez dias volta para mim. E então eu ensinar-te-ei.” O homem voltou para casa com o coração pesado. Alguns amigos vieram visitá-lo e perguntaram-lhe: “Porque estás assim tão triste?” “Bem o swami do ashram disse que eu irei morrei dentro de dez dias. Realmente não sei que fazer. Eu cometi muitos pecados e não sei como me redimir.” Nesse instante apareceu o contabilista do homem e disse-lhe: “Senhor temos que processar o homem que vos deve dinheiro.” Mas o homem respondeu: “ Esquece isso. Eu emprestei-lhe dinheiro porque tenho mais do que suficiente. Se eu não tivesse bastante para as minhas despesas, não lhe teria feito o empréstimo. Se ele não me pode pagar agora para quê enviá-lo para a prisão? Se ele pagar, muito bem. Senão diz-lhe que eu anulo a dívida. Ele pode gozar o dinheiro.” O contabilista ficou muito surpreendido porque na véspera o homem lhe tinha dito para ele confrontar o devedor e pedir-lhe a soma total acrescida de juros. Depois o homem telefonou ao irmão que não tinha visto havia já dez anos e pediu-lhe para ele o vir visitar. O irmão ficou muito surpreendido porque em tempos o homem lhe tinha dito que o iria considerar sempre um inimigo mortal. Após muita hesitação o irmão finalmente disse: “ Está bem. Virei visitar-te amanhã.” No dia seguinte, o homem que ia morrer sentou-se à janela à espera do irmão. Assim que o viu correu para ele. Abraçou-o e disse: “ Meu querido irmão, por favor perdoa-me. Eu compreendi-te mal todos estes anos. Esqueçamos a nossa inimizade e tornemo-nos irmãos e amigos de novo.” Em seguida, um após o outro, começou a chamar todos os seus inimigos e a fazer as pazes com todos eles. No dia seguinte chamou o contabilista para saber quanto dinheiro tinha no banco. Era realmente muito. Assim pôs uma parte de lado para a educação dos seus filhos e com todo o resto, passou cheques para várias instituições e grupos de apoio que começaram a usar esse dinheiro para ajudar e alimentar os pobres. Todos se começaram a admirar. “O que se passa com ele? De repente tornou-se num homem generoso, com uma mente aberta. Faz amizade com todos e dá tudo para a caridade.” Eles não sabiam que ele pensava morrer daí a dez dias. Por fim faltavam apenas dois dias. Com a preocupação não tinha conseguido comer e tinha-se tornado muito fraco. Tinha que estar acamado. Ele tinha aprendido algum yoga e não discriminava as religiões por isso convidou um padre Católico para lhe vir ler a Bíblia, um monge Hindu para lhe recitar o Bhagavad Gita e alguns yogis para lhe entoar cânticos. A sua ideia era de ouvir muitas orações bonitas antes de morrer.
Nesta altura já toda a cidade o tinha ficado a conhecer e todos o louvavam. O seu nome estava por todo o lado. O décimo dia chegou e ele dirigiu-se a todos: “Acabei o meu trabalho. Não me incomodem mais. Vou-me sentar e meditar.” Começou a repetir um mantra e esperou pela Morte. Olhou para o seu relógio. Era meia-noite do décimo dia. Algo estava errado. O swami tinha dito dez dias. Pediu aos criados que verificassem as portas. Tinha-lhes dado instruções para deixarem todas as portas abertas para que a Morte pudesse facilmente entrar. Então, apesar de se sentir fraco, chamou alguns amigos e pediu-lhes que o levassem ao swami. Por essa altura já havia centenas de pessoas dispostas a fazerem qualquer coisa que ele pedisse. Assim foram todos até ao ashram e quando aí chegaram o homem caiu aos pés do swami dizendo: “Swami, o que aconteceu com a tua previsão? Eu não morri.” “Sim, vejo que não morreste. Algo se deve ter passado mal. O Senhor da Morte provavelmente atrasou-se. Espera aqui mais um dia e vê se ele vem. Se ele não vier, eu ensino-te.” E assim o homem sentou-se num quarto e meditou. O décimo primeiro dia também passou. Ele levantou-se e disse: “Swami, ainda estou vivo. A Morte não veio. Pelo menos agora, por favor, ensina-me a verdadeira sabedoria.” O swami sorriu para ele e disse: “mas eu já te ensinei.” “O quê?” disse o homem “Eu não percebo. Tu não me ensinaste nada!” “Bem, o que tens estado a fazer nos últimos dez dias? Quantas mentiras contaste? Quantos inimigos fizeste? Quantos negócios fizeste no mercado negro?” “Swami, como poderia eu ter feito essas coisas? Eu fiz as pazes com todos os meus inimigos e dei tudo para a caridade. Eu tornei-me um bom homem porque não havia tempo a perder. Eu sabia que ia morrer e não queria morrer com uma má reputação por isso emendei tudo.” “O que pensavam os outros de ti, dantes?”
“Ninguém gostava de mim. Diziam que eu não prestava, que era um muito mau homem.” “E agora, o que dizem eles?” “Quando saio de casa, todos me tecem louvores e há muitos artigos no jornal sobre mim. Parecem todos gostar todos de mim. Chamam-me um grande homem, um santo.” “Estás contente com isso?” “Oh sim, swami. Absolutamente! Estou feliz quando gostam de mim e eu gosto de todos.” “Óptimo. Então volta para casa. Sabe que podes morrer a cada minuto e não faças de ninguém um inimigo. Vive da mesma forma que tens vivido nestes últimos dez dias. Esta é a essência do Yoga. Assim conhecerás sempre a paz. Isto é a sabedoria.” Alguém sabe quando irá morrer? Não. Pode acontecer a qualquer minuto. Por isso para quê criar inimigos? Porquê dizer mentiras? Vivam a Regra Dourada o melhor que puderem. Façam da vossa vida um sacrifício para a humanidade. Este é o objectivo do yoga; esta é a sabedoria máxima.
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