quinta-feira, 11 de junho de 2015

A lição das pedras - Dharma


Quando pequena imaginava terras infinitas, terras de pedra onde cachorros e crianças corriam sem destino; onde rochas se transformavam em cavernas, santuários, girafas, cordeirinhos, anéis e livros. Pedras que serviam como o diário do homem-pedreiro e neste diário ele escrevia as leis da natureza (Dharma), não nossos direitos, mas nossos deveres para mantermos a harmonia. Eram frases que eu procurava seguir a risca e acreditava que todos faziam o mesmo.

Até que uma amiguinha da escola não cumpriu uma das frases: Não levantar falso testemunho. Ela disse para as outras crianças que me viu falando palavrões para a inspetora. Esta era amiga da minha família levava-me para casa todos os dias. Como os outros não viam que eu a amava e jamais faria mal a ela? Fui parar na diretoria e a única coisa que conseguia falar era:- não é verdade. Fiquei três dias de suspenção e quando voltei ninguém brincava comigo, via as meninas jogando amarelinha e a tal menina mandando no jogo e ganhando todas as rodadas, eu não fiquei com raiva porque ela mentiu, fiquei com raiva porque ela manipulou as outras crianças e ai eu desisti desses jogos em que um só ganha, e contrariando as saias que usava me adentrei aos jogos de futebol com os meninos e quando saia um gol todos se abraçavam porque havíamos trabalhado em conjunto, todos seguiam as mesmas regras, as mesmas leis, com o tempo as meninas deixaram a amarelinha de lado  e começaram a sentir os braços após os jogos e eu entendi porque o homem-pedreiro tinha escrito os mandamentos e também porque eu era a pedra da amarelinha. É na pedra que se aprende a essência da vida: não está na forma, mas na alma de tudo aquilo que exala existência. A origem da pedra é seu próprio paradoxo: de tão concreta cristaliza-se em sagrada, imbatível e eterna. Só a mão do vento a vence. As pedras são o desenho das mãos de Deus que indicam o caminho da paz e da justiça e, como artesãs, esculpem os homens à sua forma; construindo seus corações e almas duras com a mesma inabalável firmeza de seres que não se entregam a mentira. As pedras ensinam que a justiça pode ser virtude e não utopia. As coisas escritas nas pedras pelo homem-pedreiro chamado Manu nos ensinam que a igualdade entre os seres  é natural e há um grande desejo em respeitar as regras, as leis da natureza, em seguir o Dharma e esse desejo só nasce com o Conhecimento. Isto aconteceu quando eu era criança e por isto escrevi com o olhar de criança para que a mesma tenha esse acolhimento e para que eu nunca me esqueça do que há de mais forte em mim: a ânsia pela justiça e pela liberdade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário