quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O LEÃO E O GROU - Panchatantra


 O LEÃO E O GROU

O Bodhisatta veio ao mundo em uma das suas vidas como um grou branco. Ele nasceu na região do Himavanta e naquele tempo Brahmadatta reinava em Benares. Ocorreu que um leão, enquanto devorava um bom naco de carne, viu um osso cravar-se em sua garganta. De tal modo inchou e o incomodou, que ele já não podia mais comer. Seu sofrimento era terrível.

O grou, empoleirado em uma árvore à procura de comida, viu-o e perguntou:

- Que mal te aflige, amigo?

O leão contou-lhe o que tinha sucedido. O grou retornou, dizendo:

- Eu bem que poderia te livrar desse osso, amigo, mas não me atrevo a entrar em tua boca, pois temo que, se assim fizesse, logo me devorarias.

- Não temas, amigo, não te devorarei. Peço apenas que salves minha vida.

- Pois bem, retornou o grou. E o fez deitar-se do lado esquerdo. Não convém confiar nas palavras de um leão. Ninguém pode saber o que fará – pensou o grou, e tratou de colocar uma pequena vareta de cada lado da boca entre as mandíbulas do leão, de modo que, se tentasse fechar a boca, não conseguiria.

Assim prevenido, introduziu a cabeça na boca do leão e com o bico moveu o osso, que logo saiu. Assim que viu o osso removido, o grou retirou também as varetas e imediatamente subiu para o galho da árvore.

O leão ficou completamente curado. Passado algum tempo, estava ele devorando um búfalo, justamente em baixo de uma árvore onde estava o grou. Eu vou experimentá-lo, pensou o grou, e recitou para ele esses primeiros versos:

Com o melhor da minha habilidade

Socorro eu te prestei,

Ó grande Rei da selva! De sua majestade

Que recompensa haverei?


O leão replicou com outros versos:

Eu vivo de rapinar viventes

Para ver a fome saciada

Já é muito ter a vida poupada

Quem já esteve entre meus dentes.


Retornou o grou recitando mais duas quadras:

O bem não sabes devolver

Em ti não há gratidão

Nem quando mais deveria haver

Servir-te é inteiramente vão


Teu afeto nunca é cativado

Nem pelo mais grato dos favores

Melhor convém afastar calado

Não te invejar nem excitar teus furores.

O grande Mestre Gautama, o Buda, terminou de contar essa história, e em seguida acrescentou:

- Naquele tempo o leão era Devadatta, o traidor; o grou branco era eu próprio.







Se isto agregou valor para você curta e compartilhe. Que todos cuidem dos demais!


Com Amor Janisleine Mara

Nenhum comentário:

Postar um comentário