Olhando para dentro
Enquanto explora kurmāsana, atenção ao alinhamento, à fixação do olhar e à respiração, treine a mente a focar e voltar-se para dentro. O conforto no corpo é necessário para acalmar a mente. Conforme o corpo torna-se estável, os olhos também começam a focar em um único ponto (nasagra drishti – pode ser na ponta do nariz ou ponto entre as sobrancelhas). Conforme os olhos acalmam-se, a mente guia-se em direção ao silêncio. É como se juntássemos nossa “conversa fiada mental” em um único canal e o cobríssemos com o som da nossa respiração. A respiração é a conexão entre o corpo e a mente. Conforme você aprende a controlar a respiração, a dureza da mente se derrete e uma inteligência intuitiva, mais suave e mais flexível, surge. O som da respiração é tão estável quanto a fixação ocular. Enquanto a respiração conduz a consciência pelo corpo, a mente desiste de se apegar e dar ordens e começa a ajudar, em vez de atrapalhar o trabalho da prática.
A inspiração e a expiração devem ter a mesma duração e o som da respiração deve ser suave. Se você torná-lo duro ou deliberadamente alto no fundo da garganta, levará a mente a ser dura e rígida. O som da respiração deve ser audível somente a você e deve dar uma sensação de movimento em direção à imobilidade, a uma atenção tranqüila. A respiração e o olhar, junto com um alinhamento seguro e uma intenção clara na prática, trarão a atenção ao centro do corpo (coração) de forma que a verdadeira Fonte – o atman, o Ser – possa surgir.Kurmāsana pode nos ajudar a entender o quinto membro (anga) no Ashtanga (oito membros) Yoga de Patañjali: pratyahara, a retração dos sentidos ou dos órgãos de percepção do mundo exterior. Quando os cinco órgãos de percepção – ouvidos, nariz, língua, olhos e pele – entram em contato com o som, o cheiro, o gosto, a visão e o toque, eles mandam mensagens ao cérebro.
A mente naturalmente quer ver mais, ouvir mais, etc. Por que treinamos, deliberadamente, a mente a ir contra isso? Qual é o valor em virar os órgãos de percepção para dentro? Se sempre expandirmos nossa energia para fora, por meio da fala constante e dos olhos perambulando, deixamos de ser sensíveis ao que acontece dentro de nós. Se estivermos preocupados em conseguir fazer a postura, não ouvimos os sinais que o corpo nos manda, e estaremos fazendo mau uso da mente, afogando a sabedoria inata do corpo. A mente e o corpo têm efeito direto um sobre o outro. Tensões físicas e mentais ficam armazenadas nos músculos e órgãos e se manifestam como bloqueios no corpo. A maioria de nossas limitações começa na mente e então aparecem no corpo. Os condicionamentos antigos e hábitos se acumulam neles. Em sânscrito esses hábitos são chamados de samskaras.
Esses acontecimentos antigos e crenças podem ser armazenados em forma de memória emocional dentro do corpo. Por causa de nossas diferentes constituições fisiológicas e histórias, tais memórias se manifestam diferentemente em cada corpo. No centro das flexões para frente está a habilidade de ir para dentro. Conforme praticamos descobrimos que enquanto acalmamos a energia excessiva da mente, estimulamos uma vitalidade que é vibrante, porém centrada e verdadeiramente autêntica.
Para fins espirituais concentre-se em Swadhistana Chakra ou em Manipura Chakra.
Os simbolismos acompanham os āsanas, nos remetendo a interpretações dos vários significados que possam surgir em uma visão mais ampla e investigativa. Assim como a tartaruga representa a condição de pratyahara que é quando o praticante de Yoga volta os seus sentidos para dentro, tal qual a tartaruga que se recolhe em si mesma, também representa em algumas culturas a longevidade. Este animal nos passa a rigidez e dureza do corpo e de seus movimentos e quando nos sentimos ou estamos assim é quando estamos com os músculos enrijecidos. Este enrijecimento do corpo físico vem tanto da falta de movimentos bem como do excesso de tensão que decorre dos medos de enfrentar, de reagir, de entregar-se e de existir na vida em sua plenitude.
Também lembrando os seus passos lentos e firmes podemos refletir o quanto podemos pisar firme e seguros quando não estamos em um ritmo desenfreado e assim viver e fazer uma coisa de cada vez, que é em última instância o princípio da concentração.
Execução:
Mantenha as pernas afastadas. Flexione o corpo para frente e coloque os braços por baixo das coxas. Apóie as mãos firmemente no chão. Estique as pernas.
Variação:
Mantenha as pernas afastadas com as plantas dos pés apoiadas no chão. Flexione o corpo para frente e coloque os braços por debaixo das coxas. Apóie as mãos nos pés. Relaxe a cabeça.
Vajra Kurmāsana: partindo de Vajrāsana leve o tronco para frente apoiando os antebraços no chão e a cabeça nos mesmos.
Padma Kurmāsana: Sente-se em Padmāsana leve o troco para frente apoiando os antebraços no chão e a cabeça nos mesmos.
Víra Kurmāsana: Dobre a perna esquerda para dentro e coloque a perna direita sobre a esquerda, de forma que os joelhos fiquem alinhados um sobre o outro, leve o tronco para frente apoiando os antebraços no chão, e a cabeça nos mesmos.
Bhadra Kurmāsana: Sente-se em Bhadrāsana (postura da borboleta), leve o tronco para frente apoiando os antebraços no chão e a cabeça nos mesmos.
Benefícios:
Expande o peito, aumenta a capacidade dos pulmões e brônquios e a quantidade de sangue no coração. Bom para problemas cardíacos, dores no peito, asma e bronquite. A medula e os ossos são fortalecidos.
Mitologia:
Kūrma é o segundo avatar do deus Vishnu. Nesse avatar, Vishnu toma a forma de uma tartaruga. Kūrma é representado com a parte de baixo sendo uma tartaruga, e a parte de cima sendo um humano. Na parte de cima, Kūrma é representado com quatro braços, cada um segurando um atributo. Kūrma se manifestou para que o Batimento do oceano pudesse ser concretizado. Nessa forma, Vishnu salvou os Devas da mortalidade e de sua perda de poder para os Asuras. Salvando assim, a espécie humana.
"Há muito tempo atrás, deuses e demônios estavam engajados numa luta sem quartel pela supremacia e pela conquista da imortalidade. Nessa guerra, a arma definitiva seria o Amrita, o néctar da imortalidade, que jazia no fundo do Oceano.
No entanto, todo o poder dos deuses, inimaginável para nós, mortais, era insuficiente para extrair o Amrita das profundezas. Ainda mais, quando os demônios estavam concentrados na mesma tarefa e boicotavam o esforço dos deuses.
Brahma, o Deus Criador, conclamou então um encontro para resolver a questão. Acordou-se que deuses e demônios cooperariam entre si, ao invés de lutar.
Vishnu assumiria a forma de Kūrma, uma tartaruga gigante e sobre suas costas, os demais deuses colocariam o monte Mandara, e ele desceria carregando essa montanha até o fundo do Oceano com o deus-serpente Vasuki, enroscado ao redor da montanha, que serviria como corda, puxada alternadamente por deuses e demônios, cada grupo ficando numa das beiras do Oceano.
Desta maneira, Kūrma, girando alucinadamente com os braços e as pernas abertos, trabalhou como uma espécie de liquidificador gigante, que espalhou as águas do Oceano em todas as direções, fazendo com que os tesouros submersos nele desde o início dos tempos, viessem à superfície.
A tarefa estava dando muito certo, até a aparição do Veneno.
Shiva estava meditando no alto do Himalāyā. Deuses e demônios foram lhe rogar para serem salvos daqueles vapores letais.
Ele aquiesceu e bebeu o veneno, ficando com a garganta colorida de azul. É por isso que ele é chamado Nīkalantha, o da Garganta Azul.
O desapego de Shiva perante a vida e a morte é absolutamente aterrador.
Ao beber o veneno, ele salva o Universo. Ao absorver em seu próprio organismo o veneno do mundo, ele redime a Humanidade.”
*versão de Pedro Kupfer
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