Nota: Em sânscrito antigo, a palavra “Sita” significa “sulco feito pelo arado”.
Rama e Sita são os ideais da nação ária. Rama é considerado como a encarnação da Divindade e Sita como símbolo da castidade conjugal.
Todas as donzelas adoram-na com profunda devoção e o supremo anelo de toda mulher é seguir o exemplo de Sita, a pura, a abnegada, a paciente.
Os monos não são, como muitos orientalistas imaginam, os quadrúmanos classificados pelos naturalistas; era o apelativo dado naquele tempo pelos árias às tribos aborígenes da Índia. De igual modo, os demônios não são os espíritos malignos conhecidos no Ocidente; eram os reinantes ou caciques das tribos ou os reis dos países estranhos. Como se vê, uns e outros eram seres humanos.
Estudando-se o caráter dos protagonistas do Ramayana, verifica-se quão distinto é do Ocidente o ideal ético e como é diverso em aparência o pensamento religioso da índia.
O ocidente diz: "Manifestai vosso poder nas obras."
A índia preceitua. "Manifestai vosso poder no sofrimento."
Para a Índia, Sita é o ideal do sofrimento.
O Ocidente resolveu o problema do muito que pode fazer o homem.
São dois extremos.
Sita é o símbolo da índia; a índia idealizada. Não importa saber se Sita foi uma personagem real, se a epopeia é ou não histórica; o que importa é o ideal encarnado em Sita.
Nenhum poema sagrado descreveu tão perfeitamente a índole da raça ária nem penetrou tão profundamente na vida hindu. Nada fervilha tanto no sangue da nação como o ideal simbolizado por Sita, cujo nome equivale na Índia a tudo que é bom, puro e santo, como atributo de uma nobre feminilidade,
Um brâmane, ao abençoar uma mulher diz: Sê igual a Sita.
Aconselha também as meninas a imitarem esse ideal. Meninas e mulheres são filhas de Sita, a paciente, a abnegada, a fidelíssima, a sempre casta esposa. Atormentada por todas as amarguras, não deixa escapar de seus lábios nem uma queixa, nem um lamento contra Rama. Considera o sofrimento como um dever e o cumpre resignadamente. Jamais se revolta e, embora aflita e lacrimosa, sobreleva a terrível injustiça do seu desterro. É o ideal da índia.
Disse Buda:
"Quando alguém vos ofende e, por vingança o castigais, nem por isso remediais o primeiro dano senão que agravais ainda mais a maldade do mundo."
Sita era hindu por natureza. Nunca pagou o mal com o mal.
Quem acertará em dizer se é mais nobre ideal a força aparente e o poderio material dos ocidentais ou o ânimo e a paciência dos orientais no sofrimento?
O Ocidente diz: "Nós aliviamos o mal, vencendo-o”.
Responde a Índia: Nós destruímos o mal pelo próprio sofrimento, até que se converte em gozo.
Ambos os ideais são nobres; porém, quem sabe qual dos dois prevalecerá no futuro? Quem sabe qual das atitudes será mais benéfica para a humanidade, qual das duas vencerá e desarmará a animalidade? Será o combate ou o sofrimento?
Entretanto, não desprezemos nem um nem outro ideal, porque ambos visam o mesmo objetivo: extirpar o mal.
Que o Ocidente siga seu método e o Oriente siga o seu. De modo nenhum aconselharei que o Ocidente se porte como a índia. O objetivo é o mesmo, embora os meios sejam diferentes.
Swami Vivekananda
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