Mas a vida é assim, fez errado, refaça, arrume, concerte. O que me
irrita é que fica na mesma coisa, tudo o que eu quero é esquecer esta dor, ela
já estava quase que esquecida, transformou-se em longas conversar que ninguém entende,
só eu e minha mãe. _há, mas se você não seguiu adiante é porque não superou,
não esqueceu... Não, não é bem assim, só mudei de planos e também não acho que
as dores da vida devam ser esquecidas, e também acho que para mim não é o
momento propício de ficar lembrando estas dores, li o texto de todos e vi só
sofrimento, tenho o costume de acolher as dores dos outros, como se elas fossem
minhas, queria pegar todos no colo e falar que isto é passado, que acabou, a cada
um de vocês, se assim vocês quiserem, mas não é isto que quero para mim, ainda
não. Não sei como vocês estão se sentindo em relembrar as dores, eu estou me
sentindo péssima, tanto que nem consegui assistir a ultima aula ao vivo.
No ultimo texto eu contei uma história de um amor que acabou, mas não
foi o suficiente, a dor exposta foi pouca, então vamos lá.... muita dor, mas eu
quero deixar claro que não quero me desfazer desta dor, é ela que me faz me
sentir mais humana. É ela que me faz estender a mão e ajudar quem precisa, como
se estendendo a mão eu conseguisse reparar o meu erro!
Minha mãe estava em câncer de mama, com metástase em fígado e pulmão, já
terminal. Vi na internet, e dor, 5 meses de vida, perguntei para a médica e ela
não me respondeu, só me olhou com um olhar que eu estava sendo otimista demais,
pesquisei, o melhor Hospital seria no Rio (INCA), eu falei para a médica eu levo ela,
só me diga o que fazer e ela me disse Mara isto é no começo, agora não tem mais
jeito. Senti-me com vergonha, como eu não tinha visto isto antes? Porque eu não
vi que o câncer tinha se espalhado, já estávamos na ultima hercepitin e eu não
vi! Não me perdoo por isto, eu estava com ela o tempo todo, estudei bioquímica,
através da bioquímica eu consegui salvar a vida do meu irmão, mas não consegui
salvar a minha mãe!
A médica disse que a gente ia ter que voltar para casa, para ela morrer
em casa, voltamos e foi difícil, minha casa tem uma escada, eu tive que chamar
os bombeiros para ajudar e quando chegou a hora de voltar para o hospital para
ela tomar a morfina e não sentir mais dor, foi horrível, eu falava para a moça
da ambulância que não tinha como descer as escadas com ela, tinha que chamar os
bombeiros, ela insistiu, eu fiquei na esquina para não ouvir os gritos dela me
chamando, amarraram minha mãe na maca,
as pernas dela ficou em sangue vivo, ela gritava e me chamava. Na ambulância eu
de joelhos pedi perdão por isto, a enfermeira chorando e eu briguei com ela, chamei-a
de incompetente e tudo mais, ela tinha estudado e se preparado para isto, quem
tinha que estar chorando era eu que sou filha. Mais uma hora no hospital da
cidade, eu estava com uma carta do Caism com todas as prescrições e
autorizações, mas não serviu de nada, duas horas depois chegamos no Caism para
ela poder tomar a morfina e não sentir mais dor. Nós fomos em uma ambulância sem
conforto nenhum , eu gritava dentro da Ambulância chamando por meu mestre
Sivananda e ele não me atendeu, três horas depois minha mãe perdeu
completamente a consciência e eu perdi a minha referencia de vida, mas ainda
assim eu não queria que ela fosse embora. Fiquei o tempo todo brigando- Mãe, o
Jakson ( meu irmão mais velho), falou que você ia ser forte! Aguenta, reaja!
Não faça isto comigo! Não me faça sentir vergonha! Não me faça ver que eu
falhei! Não me faça ver que o Jakson estava mentindo para mim!
Não teve jeito, às 8 horas da manha ela ficou sem pulso, eu segurei na
mão dela e cantei uma musica que ela cantava quando eu era criança: “Então eu
daria a meia volta, passando pelo Sol e buscando um novo dia e não se esqueça
de que você é o amor da minha vida”. E mais uma vez, novamente menti, disse a
ela: Vá, nós vamos ficar bem!
Mentira!!!! Não estamos bem, faz um ano isto e estamos todos sem rumo.
Meu pai não dorme a noite, tentou colocar outra pessoa no lugar dela
para amenizar a dor e eu não deixei, o meu irmão mais novo não sabe o que fazer
da vida e eu tentando tampar buracos, os meus buracos, os deles e sei que estou
indo pelo caminho errado, sei que se ela ver como estou hoje, o que eu faço
hoje para diminuir a minha dor ela morreria de vergonha, mas a dor do fracasso,
da impotência é muito grande. Não me perdoo por não ter visto o câncer se espalhando.
Ela esta em um cemitério que fica a cinco quarteirões da minha casa e todos os
dias eu vou até lá, com chuva ou com sol, eu vou escondida porque cansei das
pessoas me falarem que ela não esta lá, mas eu vou e peço todos os dias para
ela vir me buscar e que não foi atoa que ela me colocou o nome de Yama. Esta
sou EU, o resto é piloto automático, só fazendo o que tem que ser feito e
tomando todo o cuidado para que ninguém descubra a minha dor, porque se
descobrirem irão tirar ela de mim e eu não quero. Por favor, só leiam, não
façam nada... eu não quero nada. Estou estudando Vedanta porque acredito que
estou enganada, que o que sinto tem outro nome e não é dor.
Leiam também: http://www.vedantaonline.org/ ao-sabor-da-onda-num-barco- sem-remos/
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Mara, infelizmente, só estou lendo seu texto hoje (01/06). Mas queria que soubesse que estou muito triste por ter estado com você todo o final de semana e não ter te dado um abraço forte e bem demorado. Lendo seu texto, senti um milésimo do que você deve estar sentindo e, mesmo assim, foi muito forte. Você é uma guerreira e está se saindo muito bem!!! Obrigado por me permitir compartilhar com você um sentimento tão nobre de dentro do seu coração. Om
ResponderExcluirObrigada Daniel Giraud pelo carinho, aos poucos, aos poucos como diz o Jonas Masetti, estou tentando me recompor. Mas ainda me sinto covarde para deixar a dor.
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