quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O poder de concentração de Arjuna



Dronacharya foi o guru, ou mestre, tanto dos Kurus quanto dos Pandavas. Tem, no épico, a função de ensinar-lhes ar artes marciais, inclusive a prática mais importante da época, a do arqueiro. 
O arco, no Mahabharata, simboliza a espinha. Quando o arco está estirado, a corda lembra a espinha e a madeira encurvada se parece um pouco com a frente do corpo. A flecha disparada simboliza o poder da concentração. Sob esse aspecto, podemos visualizar também as sobrancelhas como as duas metades curvas de um arco, sendo o ponto central entre ambas a parte onde se firma a seta. 
O melhor aluno de Dronacharya foi Arjuna. Conta-se que o mestre propôs um teste a seus discípulos. Chamou um por um e pediu-lhe que acertasse a cabeça de um pássaro pousado no galho mais alto de uma árvore. Quando o aprendiz se apresentava, o mestre lhe inquiria: “Que está vendo?” 
Cada qual enumerava as muitas coisas que incidiam em seu campo de visão. Uma resposta típica era: “Vejo o pássaro, a arvore, as nuvens que flutuam.” Dronacharya sabia então que o arqueiro não acertaria a cabeça do pássaro. E assim aconteceu com todos. 
Finalmente, chegada a sua vez, Arjuna deu um passo à frente. “Que está vendo?”, perguntou Drona. 
“A cabeça do pássaro”, respondeu o jovem guerreiro. 
“Nada mais”?, insistiu o guru. 
“Nada mais! Apenas a cabeça do pássaro”, respondeu Arjuna. 
“Dispare a flecha!”, ordenou Dronacharya orgulhosamente, certo do êxito de Arjuna. Só ele passou no teste. 
Dronacharya era, como dissemos, o guru de ambas as famílias aparentadas. Na guerra de Kurukshetra, porém, ele lutou ao lado dos Kauravas. Por que agiu assim? Arjuna não era seu discípulo predileto, o melhor de todos? Há uma razão sutil para semelhante escolha. 
Psicologicamente, o que acontece nas disputas entre aspirações elevadas e tendências mundanas da pessoa é que o hábito se alia a estas ultimas. Nossa necessidade é substituir maus hábitos por hábitos bons. Os hábitos bons, no entanto, cedem a um poder superior e é isso que nos dá a verdadeira força. 
O poder de concentração exibido por Arjuna, bem como todas as demais qualidades boas necessárias à evolução espiritual, dependem inicialmente de bons hábitos. Mas aquilo que empresta a essas boas qualidades sua força real transcende o hábito: trata-se de uma força que provém da inspiração supra-consciente  Assim, não são tanto os nossos bons hábitos que garantem a vitória espiritual, mas sim o influxo da graça, orientação e inspiração divina. Entrementes, a força do hábito em geral passa para o lado negativo. Com efeito, até os bons hábitos precisam ser modificados pela inspiração divina, do contrário a pessoa, caso seja destituída de um entendimento superior, reverterá aos hábitos perniciosos. Drona se bandeou para o lado errado. Isso significa que não devemos depender unicamente de nossos bons hábitos para enfrentar testes psicológicos e espirituais. O hábito oriundo de ações passadas pode nos propiciar um bom karma; mas o karma, em si, tem de ser transcendido em dedicação à verdade.
Enquanto isso, todas as nossas qualidade assumem as características das personalidades individuais, à medida que vamos nos aferrando a elas pela repetição dos atos que a elas nos associam. Devido ao hábito, essas qualidades se firmam como verdadeiras “ cidadãs  de nossa não da consciência. Toda pessoa, já o dissemos, é uma nação em si mesma. Milhares de milhões de “cidadãos” vagam dentro desse território, cada qual empenhado em satisfazer seus próprios desejos e ambições. Sigmund Freud mal arranhou a superfície da psicologia humana com suas pesquisas. Trabalhou basicamente com tipos psicológicos anormais, mas na verdade todo ser humano, vivendo na ilusão, é uma massa de  qualidades conflitantes ou “complexos”. Freud vislumbrou apenas o conflito entre o desejo pessoal e expectativa sociais. Na realidade, o problema  mais complexo.

ESSENCIA DO BHAGAVAD GITA, A: EXPLICADA POR PARAMHANSA YOGANANDA

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